Nesse ambiente, a pequena Beatriz recebe um presente: um peixe palhaço, colorido e ágil, que se move surpreso e assustado dentro dos limites de seu aquário. Mas o peixe, presente incompreendido e inclusive recusado inicialmente pela menina, ao longo da obra, servir-lhe-á a Beatriz para que ela encontre seu verdadeiro caminho, um caminho que choca frontalmente contra as apetências das pessoas que a rodeiam, e que dar-lhe-ão a conhecer um mundo novo, pintado com as cores da música e da dança, que conduzir-lhe-á, inexorável e maravilhosamente, à liberdade.
Para que tudo isto tenha lugar, Moncho Rodríguez impregna poesia e ternura nos parlamentos das personagens que intervêm na peça. Desta forma, nem ações tão dolorosas como o desamor, a rutura, a solidão… ficam fora de sua bela pátina, suavizando e tamisando esta dor, mudando-o sempre por esperança. Com esta base poética pode-se e deve-se expor outras realidades, as que caminham paralelas à própria vida de a Beatriz. Assim, se vislumbra uma confrontação radical entre o materialismo conservador dos pais de a Beatriz e os efeitos libertadores das atividades artísticas – refletidas essencialmente nesta obra no mundo de dança. A dança, serve-lhe a Beatriz e a seu Peixe Palhaço para comunicar-se, para sentir, para fugir, para transformar todo, para se encontrar uma e outra vez, para se isolar desse outro mundo que quer a absorver e reduzir a um número, ainda que seja o mais alto de uma escala.
Nesse caminho, nessa transformação, nessa busca pessoal há tempo para descobrir a seu passo sublimes sentimentos, como o da amizade e o amor. Precisamente, essa descoberta contrasta com esse outro já apontado do desamor, da rutura e que afeta curiosamente às personagens que rodeiam a Beatriz e a seu peixe. Os pais, os avôs, a madrinha da menina e seu casal… Todos. Eles, não, porque estão imbuídospela amizade-amor, poderoso alimento que lhes faz inalteráveis". (CAÑA, José)
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