Relatos de Experiência

Conheça aqui a prática de professores no ensino do Teatro na educação básica! Compartilhe também a sua prática. Conte como foi realizado o seu trabalho em sala de aula de forma simples e didática e sirva de inspiração para outros professores.

 


Warning: in_array() expects parameter 2 to be array, null given in /home/teatrona/public_html/plugins/content/jdsocialshare/jdsocialshare.php on line 316

Warning: in_array() expects parameter 2 to be array, null given in /home/teatrona/public_html/plugins/content/jdsocialshare/jdsocialshare.php on line 316

Diário Dom Quintino

Escrito por Barbara Leite Matias
Avalie este item
(4 votos)

Escola: E.E.F. Dom Quintino
Rede: Pública Estadual
Cidade: Crato, CE
Ensino Fundamental - 6º ao 9º ano

APRESENTAÇÃO:

Essa experiência foi desenvolvida no ano de 2013, no meu estágio supervisionado em teatro III, quando estive cursando Licenciatura em Teatro na Universidade Regional do Cariri- URCA, essa experiência desmembrou em minha pesquisa de Monografia de conclusão da licenciatura e, atualmente ainda alimenta a minha atual pesquisa de Mestrado.

A ideia principal era trabalhar dramaturgia porém na presença em sala de aula percebi um estranhamento; existia uma resistência muito grande desses estudantes com a aula de artes e, principalmente com qualquer possibilidade de leitura.

Sendo assim surgiu a tentativa de desenvolver a aula a partir da proposta ou essência dos participantes; pensando assim numa metodologia efêmera.

Objetivos

-Desenvolver a disciplina de estágio supervisionado em teatro.

- Analisar possibilidade de treinamento para o ator a partir da vivência do não-ator (estudante).

- Constatar possibilidades de dramaturgia da cena a partir da experiência dos estudantes.

-Constatar meios que interligam a minha experiência de grupo de teatro com essa prática em sala de aula.

- Produzir um conhecimento artístico a partir daquela vivência.

O processo:

Essa experiência foi com o oitavo ano, uma turma com menor número de estudantes, escolhi essa turma para o relato por conta das surpresas que vivi, surpresas em relação ao meu projeto, a minha pesquisa artística-docente e, principalmente a mim; enquanto pessoa.

O contato com essa escola localizada em um bairro considerado periférico da cidade do Crato me colocou em estado de reflexão, querer viver aquela vivência sem os traumas que a princípio a própria escola nos apresenta.  Durante o meu estágio que teve duração de 120 horas, desenvolvi nessa escola com estudantes do sexto ao nono ano (em sua maioria era a primeira experiência de aulas de artes de artes com um professor com formação acadêmica) Os demais professores tinham formações em outras áreas (português, história e etc) e, ministravam aulas de Artes. 

Nesse momento proponho um trecho do meu diário de bordo, o qual me acompanhou durante o meu processo acadêmico:

Eu, (Barbara), estou aqui me propondo a desenvolver o projeto da disciplina de Estágio porém a escola tem o seu professor de Arte (uma pessoa que ministra a aula de artes porém tem formação acadêmica em artes), isso estamos falando do senhor Alberto (nome fictício) formado em (Português) isso mesmo ele tem formação em Português e nunca assistiu uma peça de teatro. Alberto me afirmou no primeiro encontro que ao contrário das outras profissionais da escola as quais ministrei o estágio supervisionado em Teatro (I e II) ele irá ficar na sala durante todos os encontros que irei ministrar, com o intuito de absorver jogos teatrais para que ele possa usar nas próximas aulas, percebi no Alberto apesar do cansaço um imenso desejo de propor futuramente novas possibilidades de aulas de Artes pois para ele a dificuldade é imensa, o qual tem acesso aos livros didáticos que instrui “modos de aulas de artes” mas o mesmo não tem essa experiência no seu corpo. Essa vivência do professor durante as minhas aulas tornou interessante o estágio no sentido que existia uma pessoa que pudesse dialogar e trocar informações sobre metodologias de ensino, por outro lado ele conhece os seus estudantes a mais tempo que eu, nesse sentido existe uma disponibilidade corporal maior, os participantes sentiam-se livres para participarem dos jogos, em seu relatos afirmaram que se sentiam bem vendo o seu” professor sério” , o Alberto participando efetivamente das minhas propostas, ao contrário das outras turmas (as quais as professoram usaram os estagiários para se livrar da turma) que os estudantes não se permitiam com tanta afetividade aquela vivência, pois o processo do estagiário conquistar uma turma é complexo, porque a cada estágio a universidade pede que se desenvolva em tipos de ensino e escola diferenciada e, todo educador sabe que a vivência de ministrar aula requer tempo de troca maior.

Essa turma do senhor Alberto era muito participativa, porque algo novo os deixou animados ou porque o professor da disciplina de Artes estava presente na sala e, sua rigidez sustentava os participantes? Iniciar o discurso com essas duas perguntas, é, desafiador porque a situação torna-se complicada ao perceber nos corpos dos participantes que a disponibilidade acontecia por conta de uma nota, de alguém que estava avaliando e pressionando a turma a fazer silêncio, por mais que esse não fosse o intuito das aulas de teatro que estava ministrando.

Com o passar do tempo as histórias mudaram de rumo, o professor que estava com um diário escrevendo o comportamento dos educandos agora participava de fato das aulas junto com os estudantes, e isso tornou o nosso aprendizado mais rico, o professor atuava nos jogos com os estudantes, assim como os participante ele também se colocava como participante esquecendo sua postura inicial e, se permitindo a viver aquela experiência, nesse momento enquanto também participante; acredito que a desenvoltura do professor cabe a uma curiosidade que o mesmo têm em relação as artes pois o mesmo passou a divulgar a agenda cultural da cidade para os estudantes, e, ele passou a frequentar espetáculos teatrais... Íamos aos grupos e, pedíamos promoção para os estudantes veem seus trabalhos

Na sala existiam dois professores (eu e o senhor Alberto) com pensamento e história de vida bem diferente, ambos ministrando a disciplina de Arte, especificamente teatro. O professor da disciplina nunca havia visto um espetáculo de dança ou teatro nem exposição artística e, ao lado, uma estagiária que faz curso superior em teatro e atua em espetáculos e faz parte de um grupo de teatro. É esse tipo de situação que causa o amadurecimento nesse futuro professor? Como lidar com essas questões? Percebi que em sala de aula precisamos ser flexível com o outro pois sua postura é de acordo com sua experiência por outro lado quando nos permitimos a novas experiência só temos a ganhar e, contribuir ao outro, nesse caso ganhei amadurecimento e um olhar abrangente para o ensino de teatro; percebendo um coadune de questões na função do artista-docente.

Durante as aulas (tínhamos um encontro semanal de 50 minutos) fomos influenciados uns pelos outros, o professor que ao início do estágio não aceitava deixarmos as cadeiras em círculo, agora elegera um grupo a cada semana, que afaste as cadeiras, deixando um espaço maior para que pudéssemos realizar as aulas práticas de teatro. A turma corria ao banheiro para colocar uma malha para melhor movimentação do corpo, a turma nesse momento inclui também o professor!

A princípio tinha uma ideia de trabalhar esse estágio mais voltado pro texto (construção de Dramaturgia) porém percebi nessa turma de adolescente uma energia para a prática; nesse momento coloco possibilidades de jogos teatrais a  partir da vivência deles (as brincadeiras de infância), percebendo nessas ações possibilidades de ministrar aulas de Teatro. As brincadeiras de infância, cantigas de rodas aos poucos tornaram cenas, segundo os mesmo queriam apresentar-se. Nesse sentido conduzi esses “pedaços de cena” e tentei organizar sem mexer no olhar deles para determinada partitura. EXEMPLO:

Pedro: fazendo um som com a cadeira (a principio esses som era usado pra atormentar o seu Alberto em sala de aula)

Neide: Começa a dançar

Alberto: Cantando essa letra; Teresinha de Jesus levou uma queda e, foi ao chão acudiu três cavalheiros todos três chapéu na mão...

Esses três conduziam a cena numa semi-arena, e, logo mais surgiam blocos cantarolando outras canções e, falando de uma história de amor de seus pais na infância.

A cada aula nos conhecíamos melhor e alguns participantes estavam com o desejo de montar um espetáculo no qual existissem personagens e texto teatral codificado; ou seja a primeira experiência que propus foi com a cena fragmentada e, agora eles queriam um espetáculo em teatro italiano com história; início, meio e fim. Por outro lado, outra parte da turma se sentia curiosa por experimentos que fossem diferentes do que estavam acostumados a assistir, (no início das aulas eu falei sobre teatro contemporâneo e mostrei vídeos do teatro atual etc.) influenciados pelas conversas discutidas nas aulas a respeito da história do teatro.

A partir das nossas conversas discutimos a possibilidade da construção do espetáculo no qual houvesse a participação no trabalho de produção, iluminação, sonoplastia, figurino etc. Segundo a turma, não se houve muito falar a respeito desse tipo de profissional; sempre se fala a respeito da figura do diretor e do ator, ainda acrescentemos à essa discussão algo que havíamos debatido no início da aula sobre os tipos de palco, desde o italiano, arena, semi-arena e os espaços alternativos. Essa discussão aconteceu porque nas aulas anteriores a turma manteve contato com vídeos e foto de espetáculos teatrais do cariri, e, depois passaram a frequentar os teatro e apresentação dos grupos da região então, os participantes construíram uma base teórica a respeito do teatro principalmente na sua região. Outro ponto positivo foi à construção de texto a partir de jogos de improvisação em sala de aula, quando a turma tomou a iniciativa de todos trabalharem juntos. Conhecemos textos clássicos como, por exemplo; “A luta de cada um PAGU” de Lia Zatz, “Luana Adolescente lua crescente” da autora Sylira Orthof e “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint- Exupéry. Ainda estudamos os textos que a turma construiu nas improvisações, misturando vários aspectos dramatúrgicos em cena.

Na minha última semana de aula; organizamos um evento e eles mostraram cenas trabalhadas em sala de aula e, convidavam o público para participar das improvisações, esse acontecimento ocorreu na quadra da escola durante duas manhãs. Eles fizeram comidas típicas para vender, Brechó e cobra um valor simbólico para entrar no evento, a função desse arrecadamento era continuar com a proposta que foi construída durante o meu estágio.

De forma independente agora, cabia a eles seguir com o trabalho e, foi assim que tem se posicionado e feito algumas apresentações na região especificamente nas escolas.

Refletindo sobre o trabalho:

Bom acredito que o educador de teatro deva estar sempre disponível ao acaso, a possibilidades; aos corpos e a escuta. Desenvolver essa prática influenciou diretamente o meu pensamento de artista assim dando novos sabores a prática docência. A princípio as dificuldades de acesso à escola; de ser aceito, de aceitarem a proposta do projeto, da própria turma, do seu Alberto (mas essas dificuldades de certa forma são comuns ao educador de Teatro na região do Cariri pois temos poucos professores com formação em artes (atualmente se formaram 12 jovens e, dentro da Universidade surgiu um Projeto o qual participei chamado PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á Docência o qual atua em algumas escolas mas essa não recebeu ainda esse projeto . Dando continuidade a situação do professor de artes na escola precisamos encarar sem medo essa realidade porque ter professor de artes nessas instituições ainda é um sonho, e nessas práticas as instituições passam a perceber e valorizar o ensino de artes, infelizmente na maioria das vezes temos que passar por esses contratempos).

Por fim percebi o engajamento dos estudante em vivenciar, em acreditar na minha proposta, o professor (Alberto) se sentia emocionado no decorrer do processo levando esse exemplo para a direção e assim a direção resolve dá o seu apoio ao meu estágio, quando por exemplo sede a quadra, libera salas para os alunos ensaiar em outros horários. Atualmente não tenho tanto contato com a escola porque estou morando fora mas essa vivencia sem dúvida fez toda diferença para nós que passamos por ela em sala de aula, a direção, pessoal da limpeza, coordenadores pedagógicos, outros educadores e, os demais estudantes se sentiram acomodados a ponto de querer fazer parte da turma e, no evento final que fizemos, havia um local para recitar poesias e falar de um sonho (alguns sonhos eram “mais teatro na escola) Por fim compreendo na prática que ser artista e docente são práticas interligadas que se retroalimentam a cada encontro.

Fonte bibliografica: 

ALMEIDA, Célia Maria de Castro. Concepções e práticas artísticas na escola. In: FERREIRA, Suelli (org.). O ensino das artes: construindo caminhos. São Paulo, Editora da UNESP, 2011.

______, Célia Maria de Castro. Ser artista, Ser professor; razões e paixões do oficio. São Paulo: Editora UNESP, 2009

BONDÍA, Jorge Larrosa. “Notas sobre experiência e o saber de experiência”. In: Revista Brasileira de Educação. N.19. São Paulo,p.20-28, jan/fev/mar/abr, 2002.

BONFITTO, Matteo. O ator-compositor: as ações físicas como eixo: de Stanislavski a Barba. São Paulo: Perspectiva, 2007.

BOAL, Augusto. O Arco Iris do Desejo: o método Boal de teatro e terapia. Rio de Janeiro. Editora Civilização Brasileira, 1996.

DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do espectador - São Paulo: Ed.HUCITEC, 2003.

______, Flávio. Pedagogia do Teatro: Provocação e dialogismo – São Paulo: Ed. HUICITEC, 2006.FERNANDES, Silvia. Teatralidades contemporâneas. São Paulo: perspectiva, 2010.

FERRACINNI, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

RYNGAERT, Jean-Pierre (2009). Jogar, representar: Práticas dramáticas e formação. Trad. Cássia Raquel da Silveira. São Paulo: Cosac Naify.

ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. 1ª Edição Reformulada. Editora Salamandra, 2009

SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin – 2 ed. São Paulo: perspectiva, 2006.

______, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: perspectiva, 2000.

TELLES, Narciso (org.). Pedagogia do Teatro: Práticas contemporâneas na sala de aula. Campinas: SP: Papirus Editora. 1ª Coleção. 2013.

TELLES, Narciso. Pedagogia do teatro e o teatro de rua. Porto Alegre: mediação, 2008.

______, Narciso. Pesquisa em artes- cênicas: textos e temas. Organizador, Rio de Janeiro: E- papers, 2012.

VIDOR, Heloisa Baurich. Drama e teatralidade: o ensino de teatro na escola. Porto Alegre: mediação, 2010

 

Lido 5464 vezes
Compartilhar
Give your website a premium touchup with these free WordPress themes using responsive design, seo friendly designs www.bigtheme.net/wordpress