Relatos de Experiência

Conheça aqui a prática de professores no ensino do Teatro na educação básica! Compartilhe também a sua prática. Conte como foi realizado o seu trabalho em sala de aula de forma simples e didática e sirva de inspiração para outros professores.

 


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Entre jogos, memória e arte: Os caminhos trilhados na Prática Pedagógica

Escrito por Poliana Lopes Silva
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Escola: Colégio Municipal Professora Alíria Argolo Pereira / Rede Pública Municipal
Cidade: Jequié- BA
Nível de Ensino: EJA
Contato: pouana@gmail.com

Apresentação

O presente relato trará objetivamente, as atividades desenvolvidas no ano de 2014, no colégio Municipal Profª Alíria Argolo Pereira, localizada no bairro do Mandacaru, na cidade de Jequié- Bahia. A referida escola faz parte do Projeto de Pesquisa: “Tempos de vida de Memória e de Teatro” e do Subprojeto de Teatro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) na linha de pesquisa: “Saberes Docentes na EJA: Tempos de Vida, de Teatro e de Cordel” da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB campus de Jequié, que no ano das atividades era coordenado pela professora doutora Carla Meira Pires de Carvalho.

Trabalhamos nesse subprojeto com o público EJA (Educação de Jovens e Adultos), em que nossas práticas teatrais vinham articuladas com o letramento dos indivíduos, no seu processo de aprendizagem e alfabetização.

O subprojeto contempla professores em formação, e auxilia tanto o desenvolvimento desses em sua formação, como possibilita aos educandos envolvidos, uma aprendizagem com caráter pedagógico da linguagem artística que desemboque em sua educação estética, sensível, sem fugir da realidade de vida deles e de textos populares.

O envolvimento com a referida pesquisa surgiu antes do inicio dela tornar-se projeto PIBID, veio das conversações com a professora coordenadora supracitada e com o convite feito pela mesma para a formação de um grupo de pesquisa na temática das memórias de vida, teatro e cordel, com o público EJA, levando em consideração que este é um público relegado em relação aos demais públicos das escolas, e por ver a necessidade de dar o direito de oferecer também a eles o contato com a subjetividade e fruição no processo educativo.

A criação do grupo de pesquisa deu-se em 2012 e depois concretizou-se quando sendo submetida a pesquisa a um projeto de pesquisa Institucional do PIBID- UESB, a proposta foi aprovada, e por meio de entrevista, analise do currículo Lattes, análise de histórico, foram selecionados os bolsistas para desenvolver no campo educacional a pesquisa prática.

Na sequência seguiram as etapas de estudo de conteúdos, divisão da equipe de trabalho em duplas, criação de planos de curso, visita e cortejo na escola, que é municipal e de periferia, reuniões semanais com equipe de coordenação e supervisores do nosso trabalho na escola, além do encontro para planejamento das aulas, assim segui-se por todo o ano de 2014, foram contempladas em torno de cinco turmas do noturno (o fundamental menor e maior de 1º a 9º ano e médio), assim distribuídos (1º e 2º), (3º e 4º), (5º e 6º), (7º e 8º), e duas turmas do ensino médio (1º e 2º), cada uma com uma dupla de bolsista. O projeto segue com nova coordenação e novos bolsistas, funcionando na mesma escola.

Objetivos

Objetivo geral:

Promover a percepção estética e artística dos educandos através de jogos, literatura, arte e memória que levem da cena ao texto e vice-versa, e a produção cênica que esteja diretamente relacionada aos interesses da turma.

Objetivos específicos:

Desenvolver o corpo, a voz, e a sensibilidade dos educandos através das dinâmicas dos jogos escolhidos para o trabalho em sala de aula;

Confeccionar um texto dramático a partir de jogos de improvisação, memórias e cordéis lidos e trabalhados com eles;

Explorar as histórias pessoais, jogos e cordéis;

Apresentar ao público os resultados originados no decurso das oficinas.

Processo

O ano letivo de 2014 dentro da Escola Municipal Profª Alíria Argolo Pereira trouxe muitos ganhos e perdas, encontros e desencontros, afinou a percepção a entrega e o desejo pela docência. Nossas atividades que são divididas em etapas iniciaram na escola com tranquilidade e excelência.

No primeiro dia de aula, ao sermos apresentados a nossa turma de trabalho, explicamos nosso ser artista em formação, dissemos ser professores de teatro almejando a profissão, e que já começávamos ali com eles, explicamos como se desenvolveria nossas aulas, com teoria como já era de costume para eles em outras disciplinas, mas que também com práticas com o uso da voz e do corpo, e ainda que ao final do ano letivo apresentariam o resultado dessas aulas em formato de pequena cena teatral e que esse resultado dependeria do nosso trabalho em equipe (nós e eles).

As nossas supervisoras, com o professor da disciplina que nós estávamos assumindo o horário na escola, passaram de sala em sala, salientando a importância do trabalho que começaríamos a desenvolver ali e referendando nossas práticas. Fomos recepcionados com muito calor pela supervisão, professores e direção da escola.

Nossas práticas em sala traziam enlevo, poesia, fruição, a energia da turma e a sala cheia. Tudo isso era muito bom para o desenvolvimento das nossas práticas, pois estimulava o desejo de estar mais e mais em sala com eles.

As aulas/oficinas na escola contemplavam aulas teóricas e práticas com jogos teatrais, jogos dramáticos, vídeos, cordéis, poesias, contação de história e relatos de experiências dos educandos. Fizemos uma contextualização de ambas às vivências com jogos de Viola Spolin, Augusto Boal, Marcos Bulhões, Michel Chekhov, de forma particular que diz respeito à bolsista desse relato, ainda são estudados e consultados autores como Aurora Ferreira, Vic Vieira Granero, Maria Cecília Mollica & Marisa Leal, Stella Maris Bortoni – Ricardo, entre outros autores, como ainda, um aprofundamento com os textos sugeridos pela coordenação do subprojeto, para a pesquisa e estrutura do nosso quadro de aulas/oficinas. Desenvolvemos as vivências explorando uma perspectiva pedagógica, que abrangesse as linguagens cênicas e o letramento do indivíduo, aluno, ator envolvido no processo.

Iniciamos, como já citado acima, com a sala cheia, e depois de três semanas de aula, ocorreu greve dos professores do município que interferiu na prática das aulas, mas que manteve os estudos e a pesquisa ainda mais intensos durante o período que aguardávamos o retorno.

Depois que retornamos da greve foi necessário reiniciar o trabalho, pois já havia esfriado os ânimos da turma, muitos alunos evadiram com a greve e com paralisações. Foram passados questionários de sondagem na sala, para juntamente com os jogos começar a trazer a tona o universo da encenação que construiríamos para a exposição do final de ano.

Fizemos várias oficinas, iniciando sempre com aquecimento vocal e alongamento corporal, as práticas vinham regadas com as sugestões de jogos de Viola Spolin como “andança pelo espaço”, “playground”, “números rápidos”, entre outros, tudo pensado para prepara-los para montar a cena curta que refletisse nosso trabalho em sala para as demais turmas da escolas e podê-los levar para apresentar em outros ambientes para além do escolar.

Aula a aula fazíamos avaliação do que trabalhamos, relembrávamos o que já tínhamos feito, apontávamos o que ainda tínhamos a fazer e pediam suas sugestões para a pratica e construção cênica.

Para a construção desse momento de encenação, foi levado em consideração o gosto dos alunos e as respostas dadas por eles nos questionários e rodas de conversa em sala. Por meio da solicitação das sugestões de nomes para o espetáculos, os alunos opinaram, fizemos uma votação, e o título eleito foi Viva La Vida, este foi um dos nomes mais votados.

Posterior ao processo da escolha do nome, vieram as aulas onde trabalhamos corpo, voz e maquiagem. Depois de selecionadas as músicas preferidas dos alunos do elenco, foi produzido um texto dramático que refletisse a realidade dos alunos (juventude, que gosta de música, festa, curtir a vida), nesse caso mais especificamente o lugar da encenação seria uma festa, numa casa.

O texto foi pensado, para que pudessem estar presentes as músicas preferidas dos alunos envolvidos no processo, e que algumas dessas músicas pudesse ser transformadas em fala para os personagens da encenação.

Seguindo a nossa programação, começamos a ensaiar, e tudo estava lindo e fervilhava, mas, aos poucos, mudanças imprevistas foram acontecendo. Uma aluna mudou de bairro e saiu da escola, outra aluna começou a faltar para cuidar da mãe com diabetes e assim seguiu, íamos ensaiando com quem estava presente, mas a medida que aproximava-se as apresentações sumiam mais alunos, a famosa evasão do segundo semestre que já nos havia alertado as supervisoras. Infelizmente os meninos saíram e depois disso enfraqueceu muito a nossa encenação, mas seguíamos.

Chegamos a levar material para confecção do cenário, mas nas duas últimas semanas que antecediam a apresentação não apareceu mais ninguém do elenco, só os meninos que não iam mais apresentar.

Então para dar seguimento ao que estava previsto, que era a mostra expositiva com os trabalhos desenvolvidos, para dar conta de expor o resultado do trabalho desenvolvido durante o ano, conversamos em sala, gravamos vídeo com alguns alunos e acertamos em fazer um varal de fotos para relembrar os momentos vividos em aula, justamente nesse formato para lembrar também a maneira como eram vendidos os cordéis, e apresentamos ainda um vídeo mostrando os bastidores dos ensaios para o espetáculo e entrevista/depoimento de alguns alunos. Em resumo nossas aulas continham alongamentos, aquecimento, desenvolvimento das oficinas com jogos, ensaio, roda de conversa, boa parte do tempo assim se deu o trabalho. Ao longo das aulas usamos data show, som, balão de festa, corda e na grande maioria do tempo, o corpo e a voz.

As aulas de teatro como qualquer outra disciplina da grade curricular merece seu espaço. Com alunos que essa pratica acontece desde cedo, fica comprovado a sua desenvoltura em relação a outros que não obtiverem essa oportunidade. É maravilhoso levar a alegria contagiante do teatro para escola e melhor ainda, escutar o retorno dos alunos, ouvir suas contribuições, sugestões e também reclamações. Eles são definitivamente nossa balança, no que diz respeito ao preparo e elaboração dos planos de aula, pois a observação destes, seu retorno através da participação, e sua fala no momento de avaliação da aula, nos dá respaldo para investir ou retrair determinada prática na sala de aula, e assim vamos avançando e aprendendo juntos.

De modo geral, a vivência de iniciação a docência tem um saldo muito positivo. É fato que o ambiente escolar ainda necessita de um local apropriado para as aulas de teatro (sala ampla, sem cadeiras, mais arejada, com colchonetes), além de mais recursos audiovisuais, como ainda, os alunos precisam de roupas apropriadas para as práticas (malhas). Talvez a maior dificuldade seja lidar com um público que não conheça o teatro, não como dominadores da arte, mas mesmo como espectadores, pois é notável uma deficiência na apreensão dessa linguagem. A maioria deles, nunca foi ao teatro, ou sequer assistiram a uma peça teatral, mesmo essas feitas e apresentadas na escola.

A docência é com certeza um trabalho delicado que precisa ser feito com muito amor, pois diferentes são as realidades que chegam à escola. Talvez trabalhar o público EJA, seja fruto do desejo de querer quebrar essas barreiras, no que diz respeito a uma educação igualitária entre as turmas do diurno e do noturno, pois, as melhores atividades acabam sendo destinadas para o público do matutino e vespertino, enquanto o público EJA é formado por pessoas que trabalham durante o dia, chegam cansados para a aula. Mas isso não justifica um trabalho menos delicado e vigoroso.

Os resultados

As atividades almejadas foram alcançadas dentro das possibilidades da turma. Além das práticas com jogos teatrais e o acesso a vídeos, cordéis, visitas a espetáculos no SESC-Jequié e na UESB, houve ainda apresentação dos resultados do trabalho desenvolvido em sala, no pátio da escola, com participação de todas as turmas envolvidas no subprojeto, com varal de fotos, exposição dos diários de bordos, vídeos, cenas curtas e declamação de cordéis.

Avaliação

A Avaliação se deu de maneira processual com a observação da presença, pontualidade, participação, proposição dos alunos nas improvisações;

Por meio da Integração, da disciplina e percepção da compreensão das atividades propostas;

Nas rodas de conversa, que foi um excelente termômetro para avaliar os alunos, pôde-se notar os ganhos e benefícios da intervenção do Projeto Pibid Teatro na escola, pois os alunos eram gratos pela desinibição que começava a dar sinais neles, além do relaxamento, melhor comunicação e visão de mundo, pelas apreciações estéticas em espetáculos gratuitos disponibilizados ao público pela UESB e SESC Jequié;

De modo geral os alunos passaram a ter maior aceitação uns pelos outros, melhora na atenciosidade, melhor rendimento na escola, e na vida.

Refletindo sobre o seu trabalho

A escola abriu o espaço para o desenvolvimento dos nossos trabalhos e a figura das supervisoras foi essencial para que essa parceria se perpetuasse e que nosso espaço fosse respeitado e garantido, visto que elas além de providenciarem alguns materiais para o desenvolvimento das oficinas como cartolinas, pilotos, data show, som, também elas davam os avisos e muitas vezes providenciavam o transporte dos alunos da escola até o espetáculo. Os alunos, não todos se renderam a lúdica e fascinante atividade teatral, houve evasão, algo que já nos havia sido alertado que ocorreria no segundo semestre letivo. Continuamos desenvolvendo nosso trabalho adaptado a quantidade de alunos que íamos tempo, que era bastante oscilante de semana a semana. Boa parte do que foi planejado, foi realizado na escola, pois a mostra das atividades desenvolvidas não foram todos em formato de cena, mas de fotografia, vídeo e dança, para contemplar as lacunas das evasões do alunado. Depois de poder realizar as atividades previstas dentro da sala de aula, fica a sensação de dever cumprido e a satisfação de poder aprimorar a aptidão na área enquanto docente em construção. Observando e trabalhando com o nosso público, podemos notar as diferentes carências e objetivos que eles almejam na escola, tais como: algo que os eduquem, qualifiquem, mas também, algo que os motivem em suas relações interpessoais e em suas vidas. A escola é antes de tudo um espaço do saber, um encontro de saberes de vida e lá, juntos podemos viver esses encontros.

Referência Bibliográfica

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OSTROWER, Fayga. Acasos e criação artística. 2 ed. RJ: Elsevier, 1999.

SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. Tradução de Ingrid Dormien Koudela. 2ª ed. – São Paulo: Perspectiva, 2006.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. [tradução e revisão Ingrid D. Koudela e Eduardo José de A. Amos]. 5ª ed. – São Paulo: Perspectiva, 2005.

SPOLIN,Viola. Jogos Teatrais para a sala de aula: um manual para o professor. [tradução Ingrid Dormien Koudela] 2ª Ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

GANERO, Vic Vieira. Como usar o teatro na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2011.

BORTONI-Ricardo, STELLA Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parabola, 2008.

FÉRAL, Jossete. Encontros com Ariane Mnouckine: erguendo um monumento ao efêmero; tradução de Marcelo Gomes – São Paulo: Editora Senac: Edições SESC, 2010.

MOLLICA, Maria Cecília. Letramento em EJA. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

STANISLAVSKI, Constantin. A construção da personagem; tradução Pontes de Paula Lima. – 19ª – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. São Paulo: Hucitec, 2004.

Fischer, Stela Regina. Processo colaborativo: experiências de companhias teatrais brasileiras nos anos 90. Campinas, SP: [s.n], 2003.

 

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