Entrevista realizada por Marcelo Menna Barreto
Ana Mae Barbosa – Fui discípula do Movimento Escolinhas de Arte, criado em 1948. Senti que estávamos retrocedendo 46 anos na qualidade do Projeto de Educação no Brasil. Retiraram justamente as disciplinas que desenvolvem a capacidade crítica dos jovens. Com o objetivo de formar uma geração facilmente manipulável esqueceram até de um dos slogansfundantes da Cultura Ocidental: “Mens sana in corpore sano”.EC – No seu entendimento, qual é a importância do ensino de Artes na formação dos indivíduos?
Ana Mae – Há duas linhas. Uma chamada essencialista que defende as Artes nas escolas por que as Artes são visceralmente importantes para o desenvolvimento do ser humano. A prova é que existem desde o tempo das cavernas, apesar de serem perseguidas por censura (como agora no Brasil), corte de verbas, encarceramento e até eliminação de artistas, críticos e professores ao longo da História. Outra linha, a contextualista, tem respostas mais científicas baseadas em pesquisas. Chegaram à conclusão que a aprendizagem em Artes é transferível para a aprendizagem de outras disciplinas.EC – Como o ensino das Artes nas escolas pode se tornar uma ponte para outras disciplinas?
Ana Mae – Foi fundamental nos Estados Unidos a descoberta, nos anos 1990, de que os alunos com as melhores notas ao longo de dez anos no teste SAT (equivalente ao Enem) tiveram alguma disciplina de Artes em seu currículo. Passou-se então a estudar o ensino das Artes em referência à transferência cognitiva. As perguntas eram: O que se aprende e o como se aprende? Artes é transferível para outras disciplinas? O desenvolvimento mental que as Artes proporcionam é aplicável ao modo como se aprende as outras disciplinas?EC – E quais foram as respostas?
Ana Mae – James Catterrall (Phd em educação pela Stanford Universty, professor emérito da Universidade da California, atualmente Diretor do Centro de Pesquisas em Criatividade do California Institute of the Arts – CallArts) dedicou grande parte de sua vida às pesquisas que provam que as Artes desenvolvem a cognição do indivíduo. Cognição esta que pode ser aplicada a outras áreas do conhecimento. Chegou à conclusão de que as Artes desenvolvem até a inteligência medida pelo teste QI, que é apenas uma parte da inteligência, a inteligência racional. Encontrou quatro pesquisas que provam a transferência de aprendizagem das Artes Visuais para outras áreas. Essas pesquisas demonstraram que o estudo de Desenho aumenta a qualidade de organização da escrita; raciocinar sobre Arte desenvolve a capacidade de raciocinar sobre imagens científicas; a análise de imagens da Arte propicia a capacidade de leitura mais sofisticada, interpretação de textos e inter-relacionamento de diferentes textos. Enfim, a “instrução em Artes Visuais” como fator de desenvolvimento da prontidão para a leitura compreensiva foi uma das conclusões das quatro pesquisas que Catterrall analisou.EC – Isso só nos estudos de Artes Visuais?
Ana Mae – Sim! Já o número de pesquisas provando a transferência de cognição em Teatro para outras áreas foi quase cinco vezes maior, o que o levou a identificar também maior número de consequências positivas da experiência em Teatro para o comportamento cognitivo dos jovens de ensino médio. Foram identificados uma maior compreensão da leitura oral de textos, maior compreensão do discurso oral em geral, aumento da interação entre pares, capacidade de escrever com eficiência e prolixidade, habilidades de resolução de conflitos, concentração de pensamento e habilidades para compreender as relações sociais. Também aparece a capacidade para compreender problemas complexos e emoções, além de estímulo ao engajamento. Ainda, habilidade de interpretação de textos não relacionados e maior disposição e capacidade de desenvolver estratégias para resolução de problemas.Para ler a entrevista na íntegra acesse: http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2017/11/educacao-sem-arte-educacao-para-a-obediencia/Fonte: http://www.extraclasse.org.br/