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Educação sem arte, educação para a obediência

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“Retirar Artes do ensino médio é reduzir a possibilidade do desenvolvimento de habilidades importantes em outras disciplinas” “Retirar Artes do ensino médio é reduzir a possibilidade do desenvolvimento de habilidades importantes em outras disciplinas” Foto: Lóryen Bessa

 A pioneira da arte-Educação fala sobre MBL, Escola Sem Partido, reforma do ensino médio e alerta sobre a importância do ensino das artes

Entrevista realizada por Marcelo Menna Barreto
Carioca de nascimento, criada em Pernambuco, Ana Mae Barbosa é a principal referência no Brasil para o ensino de artes nas escolas. Foi a primeira brasileira a fazer doutorado em Arte-Educação. Para custear seus estudos na Universidade de Boston, deu aulas de cultura brasileira em Yale. Influenciada pelo educador Paulo Freire (1921-1997), desenvolveu a “abordagem triangular para o ensino de artes”, concepção sustentada sobre a contextualização histórica, a apreciação da obra e o fazer artístico. Acumula diversos prêmios e mais de uma dezena de livros que são referência para a arte-educação contemporânea. Neste ano, foi escolhida pelo Itaú Cultural como uma das dez pessoas ou coletivos que atuaram de forma relevante na vida artística e cultural do país nos 30 anos de atuação do instituto. Em 2016, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Educação e Pedagogia com a obra Redesenhando o Desenho – Educadores, Política e História. Professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Ana foi diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e presidente do International Society of Education through Art (InSea), além de professora visitante da Universidade de Ohio (EUA). Aos 81 anos, Ana Mae não para de trabalhar. Nesta entrevista ao Extra Classe, ela fala sobre a importância do ensino de artes na formação dos educandos e critica a retirada dessa disciplina do currículo do ensino médio. “Querem uma geração fácil de manipular”, alertaExtra Classe – Além de precursora da Pós-graduação em Arte-Educação no Brasil, a senhora ficou conhecida pela defesa da inclusão do ensino da arte nos currículos na educação básica e das instituições de ensino. Como se sentiu ao ver a retirada das disciplinas de Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia pela reforma do ensino médio?
Ana Mae Barbosa – Fui discípula do Movimento Escolinhas de Arte, criado em 1948. Senti que estávamos retrocedendo 46 anos na qualidade do Projeto de Educação no Brasil. Retiraram justamente as disciplinas que desenvolvem a capacidade crítica dos jovens. Com o objetivo de formar uma geração facilmente manipulável esqueceram até de um dos slogansfundantes da Cultura Ocidental: “Mens sana in corpore sano”.EC – No seu entendimento, qual é a importância do ensino de Artes na formação dos indivíduos?
Ana Mae – Há duas linhas. Uma chamada essencialista que defende as Artes nas escolas por que as Artes são visceralmente importantes para o desenvolvimento do ser humano. A prova é que existem desde o tempo das cavernas, apesar de serem perseguidas por censura (como agora no Brasil), corte de verbas, encarceramento e até eliminação de artistas, críticos e professores ao longo da História. Outra linha, a contextualista, tem respostas mais científicas baseadas em pesquisas. Chegaram à conclusão que a aprendizagem em Artes é transferível para a aprendizagem de outras disciplinas.EC – Como o ensino das Artes nas escolas pode se tornar uma ponte para outras disciplinas?
Ana Mae – Foi fundamental nos Estados Unidos a descoberta, nos anos 1990, de que os alunos com as melhores notas ao longo de dez anos no teste SAT (equivalente ao Enem) tiveram alguma disciplina de Artes em seu currículo. Passou-se então a estudar o ensino das Artes em referência à transferência cognitiva. As perguntas eram: O que se aprende e o como se aprende? Artes é transferível para outras disciplinas? O desenvolvimento mental que as Artes proporcionam é aplicável ao modo como se aprende as outras disciplinas?EC – E quais foram as respostas?
Ana Mae – James Catterrall (Phd em educação pela Stanford Universty, professor emérito da Universidade da California, atualmente Diretor do Centro de Pesquisas em Criatividade do California Institute of the Arts – CallArts) dedicou grande parte de sua vida às pesquisas que provam que as Artes desenvolvem a cognição do indivíduo. Cognição esta que pode ser aplicada a outras áreas do conhecimento. Chegou à conclusão de que as Artes desenvolvem até a inteligência medida pelo teste QI, que é apenas uma parte da inteligência, a inteligência racional. Encontrou quatro pesquisas que provam a transferência de aprendizagem das Artes Visuais para outras áreas. Essas pesquisas demonstraram que o estudo de Desenho aumenta a qualidade de organização da escrita; raciocinar sobre Arte desenvolve a capacidade de raciocinar sobre imagens científicas; a análise de imagens da Arte propicia a capacidade de leitura mais sofisticada, interpretação de textos e inter-relacionamento de diferentes textos. Enfim, a “instrução em Artes Visuais” como fator de desenvolvimento da prontidão para a leitura compreensiva foi uma das conclusões das quatro pesquisas que Catterrall analisou.EC – Isso só nos estudos de Artes Visuais?
Ana Mae – Sim! Já o número de pesquisas provando a transferência de cognição em Teatro para outras áreas foi quase cinco vezes maior, o que o levou a identificar também maior número de consequências positivas da experiência em Teatro para o comportamento cognitivo dos jovens de ensino médio. Foram identificados uma maior compreensão da leitura oral de textos, maior compreensão do discurso oral em geral, aumento da interação entre pares, capacidade de escrever com eficiência e prolixidade, habilidades de resolução de conflitos, concentração de pensamento e habilidades para compreender as relações sociais. Também aparece a capacidade para compreender problemas complexos e emoções, além de estímulo ao engajamento. Ainda, habilidade de interpretação de textos não relacionados e maior disposição e capacidade de desenvolver estratégias para resolução de problemas.Para ler a entrevista na íntegra acesse: http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2017/11/educacao-sem-arte-educacao-para-a-obediencia/Fonte: http://www.extraclasse.org.br/
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